(Foto de autoria do próprio autor)
Geralmente
neste dia, queremos estar com quem amamos, parentes e amigos, e em um ambiente
alegre e festivo, mas naquele dia fui surpreendido. Não esperava eu, passar
este dia por lá, pois não estava na minha programação.Talvez em outra ocasião
sim, não me seriaestranho, pois já havia estado ali em outros momentos, mas
nunca no meu aniversário. Parti sem entender...
Chegando
ao presídio, dois grandes portões nos separavam, o primeiro aberto, e o segundo
fechado. Ao passar pelo primeiro portão, os que estão ali de passagem, pois só
trabalham, nos recebiam; ao passar pelo segundo, grande e forte, nos acolhiam os
que ali residem. Eram olhares diversos, mulheres de diferentes idades, todas em
ADVENTO, esperando a nossa chegada. Não imaginava eu o que o Senhor me havia
reservado! Para minha surpresa, o ambiente estava preparado: nas paredes
internas inúmeras plantas, cheias de vida e verdes compunham aquele espaço.
Havia uma tenda e sob ela o Altar estava posto, flores amarelas o enfeitavam.
Ali, dentro de poucos instantes, a Santa Missa estaria sendo celebrada. Em
poucos minutos, o espaço foi sendo povoado, não víamos bancos, muito menos
cadeiras, baldes de margarina (daqueles grandes) tornaram-se assentos, cada uma
trazia o seu. Eu observava atento cada momento e aproveitava os minutos que me
restavam, antes do início da celebração, para conversar com as mulheres que
chegavam de todos os lados.
Partilhas
sofridas, mas cheias de ESPERANÇA, mulheres que mesmo aprisionadas tinham
sonhos, sonhos de liberdade, de poderem um dia reencontrarem os seus familiares
e amigos, de refazerem a sua história.Naquele momento comecei a compreender o
porquê de estar ali, uma vez que era o IV Domingo do Advento, tempo litúrgico
no qual a “ESPERA” é constante, pois toda a liturgia deste tempo nos introduz
nesta expectativa, neste desejo por Aquele que há de vir (daí Advento). Naquelacelebração
faltava a “coroa do advento” que sinaliza a brevidade do tempo para a chegada
do
Senhor, mas aquelas
mulheres esperançosas, cheias de sonhos, me falaram muito mais que as quatro
velas acesas, eram muito mais que quatro, bem mais que quarenta.
Durante
a Missa cantavam com força, cheias de vida, pareciam até um coral, na liturgia
da Palavra participavam com fé colocando os dons a serviço, seja para ler ou
cantar o salmo, a homilia tornou-se um frutuoso diálogo de partilhas de vida,
nas preces, ah! nas preces, eu chorei feito criança contemplando uma delas,
rezando de olhos fechados, com palavras e lágrimas, não era uma prece qualquer,
era de uma confiança incrível, seus gestos expressavam isso. As palavras da
consagração do Pão e do Vinho, próprias do presbítero, foram por elas recitadas
com voz forte, para os liturgistas talvez um erro, para mim um gesto simples de
quem não estavam preocupadas com
a melhor forma, mas apenas desejosas de expressar o amor muitas vezes retido.
Nunca um “Tomai e comei...” e um “Tomai e bebei...” tinham soado tão forte em
mim, foi neste segundo momento que não contive as lágrimas. Aqui eu entendi...
Entendi
o que verdadeiramente significa o ADVENTO, como devo viver essa espera
vigilante, sem desistir fácil daquilo que desejamos, mesmo se na vida tantas
“grades” nos aprisionam, elas jamais serão capazes de impedir que a libertação
nos alcance: “Vem vindo a libertação, ergam a cabeça levantem do chão!”.
Entendi
que o melhor presente de aniversário o Senhor me havia reservado, longe
daqueles por mim esperados. Coisas de um Deus que não se cansa de
surpreender-nos nas coisas simples, nas mais improváveis onde até mesmo
umPRESÍDIO é capaz de tornar-se PRESENTE, porque fala ao coração. Nenhum bem
material faria isso!
Enfim,
entendi a força das palavras do Evangelho proclamado no dia da minha
Consagração como Religioso da Sagrada Face: “O Espírito do Senhor está sobre
mim, porque ele me consagrou com a unçãopara
anunciar a Boa Nova aos pobres; enviou-me para
proclamar a libertação aos cativose aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidose para
proclamar um ano da graça do Senhor” (Lc 4, 18-19).
Obrigado,
Senhor, que a graça do teu Natal, perpasse todas as grades que nos aprisionam e
nos afastam de ti, especialmente aquelas interiores que, muitas vezes, nem
enxergamos. Toca-nos Verbo feito Carne, para que possamos, como S. Agostinho
exclamar: “Tocaste-me e ardi por tua paz!”
Ir. Dannilo Luiz
Rocha Lira, RSF
Religioso da Sagrada Face
22 de Dezembro de 2016